quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A namoradinha do Brasil



Antes que eu perca minhas leitoras, que estão em maioria, resolvi parar de falar de carros e motos.  Quem gostar de carro que vá ler a Quatro Rodas.  Daqui pra frente só escrevo sobre temas que elas entendam e gostem. E pra recuperar logo a mulherada, vou apelar. Vou começar contando uma história de amor:

Estava em um engarrafamento em Vila Isabel, na 28 de setembro, indo para um lugar totalmente fora da minha rota. Não tenho lembrança de onde estava indo nem o que iria fazer lá. Só sei que estava calor e o carro não tinha ar.

Atordoado, com a cabeça quente no meio daquela zoeira do trânsito, escutei alguém gritando: -“Dioclau!”

Era comigo. Dioclau era meu apelido lá em Barra Mansa na época. Dei uma olhada em volta e não vi quem estava me chamando. Já ia engatar a primeira quando aparece o Marcos Brasil, conterrâneo amigo, companheiro das madrugadas na esquina do Castelinho.

-“Pára aí, Dioclau, há quanto tempo! Vamos tomar uma gelada, deixa esse carro aí!” – e já foi sinalizando pros outros carros igual flanelinha, não me deu nem chance de recusar o convite. Aliás, nem pensei em ir embora, gosto de um bar e de prosear com o Brasil, que sempre foi um poeta.

Entrei no bar, uma varanda bem mais gostosa do que o volante do carro engarrafado e pensei na sorte que eu dei do Brasil ter me enxergado. Cheguei na mesa e ele me apresentou uma moça: -“Dioclau, Carminha, minha namorada. Carminha, Dioclau, amigo meu lá do Barrão!”

A moça era baixinha e simpática, a gente começou a beber e contar caso. Reparei o ar de felicidade do Brasil e pensei, coração de artista é precipitado, se apaixona fácil, eles se conhecem só tem uma semana.

Ficamos horas bebendo e a conversa foi ficando muito boa. No fim, quando o cara do bar começou a jogar água no pé da gente, eu e ela já éramos amigos pra sempre. Saímos do bar os três abraçados e prometemos nos encontrar logo.

Dirigindo pra casa, sem nem me lembrar pra onde estava indo antes do encontro, achei que meu amigo tinha acertado no namoro. A Carminha tinha jeito mesmo de namoradinha de antigamente. Sorte a dele.

Passados uns dois dias, à noite em Niterói, eu tinha acabado de fazer uma prova na faculdade e estava triste com a nota que ia tirar. Resolvi dar uma passada na casa do Moreirinha, um colega de sala e de cachaça, que nem tinha aparecido pra fazer a prova. Costumava ir na casa dele sempre, ele morava sozinho em Icaraí, perto da minha casa, era meu caminho.

O porteiro me conhecia, então subi direto e já fui tocando a campainha. Ninguém atendeu. Eu voltei na portaria e perguntei. O moço garantiu: -“Pode tocar, ele está aí, deve estar dormindo.” Peguei o elevador preocupado, o que será que deu nele, será que está doente?

Na intenção de ajudar, comecei a dar porrada na porta e o barulho atraiu a vizinhança. Eu falei pro síndico, estou com mau presságio, meu amigo não é de matar aula, quanto mais prova! Ele concordou e começou a bater na porta junto comigo.

Daí a pouco a gente escuta o Moreira grunhir lá de dentro que ia abrir. E abriu, com cara de puto, enrolado numa toalha, com o cabelo todo despenteado. Eu nem perguntei nada e fui entrando.

Sentei na sala, acendi a luz, abaixei o som, servi um uísque ruim que ele tinha sempre e fui perguntando, caramba moleque, tá passando mal?  Faz meia hora que eu estou chamando aí na porta, nem na prova você foi!

Ele, no cinismo que eu já conhecia, fez cara de doente e falou que tinha comido alguma coisa estragada, a barriga tinha desandado e não dava nem pra sair de casa. Tava de toalha porque toda hora era banho. Eu vi logo que tinha mistério, não era nada de dor de barriga.

Entre os colegas da faculdade tínhamos um pacto: sacanear ao máximo uns aos outros, não dava pra dar mole. E eu senti ali uma chance, pensei, não vou mais embora, a verdade vai ter que aparecer.

E tome de trocar disco, pegar gelo, encher copo e perguntar bobagem. Deu meia hora e eu inventei que tinha brigado em casa, que ia dormir ali mesmo, a roupa dele servia em mim. Tinha que ver a cara de satisfeito que o homem ficou.

Ele, quando viu que eu não ia embora mesmo, entrou no quarto, demorou um pouco e voltou de roupa. Passou um minutinho, sai alguém rapidinho do quarto pro banheiro no corredor. Aí eu falei: -“Moreira, por que você não falou logo, eu ia embora! Agora faço questão de conhecer a moça!”

E fui ficando até que, sem gracinha mas cheirosa, sai do banheiro a namorada secreta. Ele me apresenta, ela vem chegando pra dar beijinho, olha pra minha cara e não acredita. Eu olho pra ela e também não acredito. Oi, tudo bem? Tudo bem!

Tive que fingir que não conhecia a Carminha, a namorada bacana do Brasil.

Ficamos ali conversando amenidades até que, quando o Moreira foi na cozinha pegar mais gelo eu falei baixinho, no ouvido dela:

-“Porra Carminha, vai gostar de amigo meu assim lá no inferno!”

Reparei depois deste episódio, como meus dois amigos eram parecidos! Nunca chegaram a se conhecer. Um de Barra Mansa, outro de Niterói e muito mais coisa em comum do que minha amizade. E era dessa coisa que a Carminha tinha gostado, pensei mais tarde em casa.